XP diz não comentar casos específicos, e que preza pela qualidade no relacionamento com seus mais de 5 milhões de clientes
A ex-apresentadora Márcia Goldschmidt entrou com um processo na 32ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo contra a XP Investimentos por conta de seguidas perdas na gestão de sua carteira de investimentos, que, segundo o processo, somam US$ 3 milhões. No câmbio de sexta-feira, 20, seria o equivalente a R$ 16,5 milhões.
Procurada, a XP diz que “não comenta casos específicos em andamento na Justiça”, e que “investimentos fora do Brasil seguem regulações locais e não podem ser avaliados sob a ótica brasileira” (ver na íntegra abaixo).
O advogado de Goldschmidt, Adilson Bolico, do escritório Mortari Bolico Advogados, relata que a ex-apresentadora, hoje palestrante, foi convencida a migrar para a XP após o consultor responsável por sua carteira no Brasil passar a atuar na gestora. Márcia, na época, morava fora do país, em Portugal. Ela aceitou a mudança de instituição. E, então, o mesmo consultor orientou que a apresentadora transferisse seu patrimônio para a operação da XP na Europa, onde atuava como sócio.
Inicialmente reticente, Márcia concordou após argumentação, e o consultor fez a transferência para o outro lado do Atlântico, e, segundo o processo, essa transferência, feita ao longo de meses, resultou em perdas de US$ 500 mil, por decisões equivocadas do consultor.
Segundo Bolico, as perdas só não foram maiores por insistência da própria cliente ao questionar a estratégia do consultor, de realizar um contrato de “dólar a termo”, simplificando, seria uma aposta em uma cotação futura da moeda, em tese, mais interessante. “Era uma operação altamente sofisticada, utilizada como proteção no meio empresarial. Não é um contrato comum para pessoas físicas”, diz Bolico. “Marcia não é especialista em investimento, confiou no gestor, queria apenas proteger seu patrimônio”.
De acordo com Bolico, a operação feita naquele momento não fazia sentido, sendo um período de muitas incertezas, quando não condiz especular um câmbio futuro. “O que a manteve na XP foi a avaliação de que a empresa tinha uma estrutura profissional, especializada em investimento, então existiu uma relação de confiança, acreditando que a empresa iria oferecer algo sólido, ou, pelo menos, apontar quando tivesse algo de maior risco”.
No processo de migração, entre outros movimentos, o consultor teria feito um investimento alegando que daria um retorno de 100% em 18 meses. O consultor tinha autonomia para as decisões, diz. Mas, Marcia teria descoberto somente depois que, quem fazia as assinaturas de autorização era outra empresa, e que ainda havia uma dívida com essa outra empresa pelos serviços prestados, pois não teriam sido pagos os custos mensais, os chamados “fee de administração”.
Já a operação que daria 100% de retorno tinha sido prometida com vencimento em dezembro de 2019. Mas Marcia soube depois que o vencimento havia sido adiado para 2027, e que nunca houve uma garantia de prazos e retornos. Também não recebeu até hoje qualquer tipo de retorno desse investimento. “Temos prints de mensagens do consultor garantindo a ela que não haveria perdas. Mas desde que ela migrou para a XP, só teve perdas na carteira”, relata o advogado.
Outra surpresa foi quando Marcia descobriu que a XP Europa tinha se fundido com outra instituição bancária, para onde também migrou seu gestor. Quando ela recebeu a documentação para assinar a transferência para o novo banco, notou que sua descrição constava como “investidora profissional e de perfil arrojado”, o que, segundo Bolico, não condiz com a realidade.
Agora em 2024, ao fazer o balanço, a apresentadora identificou uma redução de patrimônio de US$ 3 milhões. Por isso, diz o advogado, considerando todo o histórico, foi apresentada uma manifestação judicial relatando suas perdas, por entenderem que a XP possui responsabilidade. “Perdas pontuais em investimentos podem ocorrer. Mas o caso da Marcia não foram prejuízos decorrentes de uma perda natural do mercado. Houve falha informacional. A responsabilidade da XP se dá pela condução da gestão e dos investimentos”.
“Mexeu com você, mexeu comigo!”
Márcia Goldschmidt, conhecida pelo bordão “Mexeu com você, mexeu comigo!” em seu programa vespertino na TV, transmitido entre 1997 e 1998 no SBT, e entre 2007 e 2010 na Band. Ao site IstoÉ Dinheiro, Márcia, que hoje vive na Espanha, relata estar com uma “Sensação horrível” sobre o caso.
Márcia Goldschmidt na época como apresentadora na TV (Crédito:Reprodução/Instagram)“Migrei para XP porque era grande, vendia a imagem de empresa inovadora, zelando pelo interesse e patrimônio de seus clientes. E me convenceram a migrar meu patrimônio para Europa, quando eu disse que não entendia nada de investimentos e eu ainda estava passando pelo problema de saúde de uma de minhas filhas”, lembra ela. Uma das filhas gêmeas de Márcia teve um problema no fígado e precisou passar por um transplante.
“Fizeram essas operações que me levaram a uma perda enorme”, conta, dizendo que se surpreendeu ao ser tratada como investidora profissional. “Espero que a Justiça brasileira olhe não só por mim, mas por tantas outras pessoas que têm sido lesadas por confiarem em grandes empresas. Depois, essas pessoas não têm o mesmo alto-falante que eu. Não é justo. Tenho provas, documentos, prints. Vou até o final”.
Veja o posicionamento da XP na íntegra:
“Em respeito à legislação, que resguarda a privacidade das informações de clientes, a XP não comenta casos específicos em andamento na Justiça. Investimentos fora do Brasil seguem regulações locais e não podem ser avaliados sob a ótica brasileira. A XP preza pela qualidade no relacionamento com seus mais de 5 milhões de clientes, reconhecida pelos prêmios que acumula no seu segmento de atuação”.
*IstoÉ Dinheiro
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