Quando o dólar pode voltar para menos de R$ 5? Especialistas de câmbio respondem
Dólar (USD) - Foto: iStock
Nos últimos seis meses, o dólar acumulou uma alta de mais de 5%, saindo do escopo de uma conversão a R$ 4,90 para a casa acima de R$ 5,10.
Esta alta do dólar em relação ao real foi motivada tanto pela política monetária pressionada, como também pelo atual cenário brasileiro.
Na visão do planejador financeiro, CGA e sócio da The Hill Capital, Marcelo Bolzan, o cenário que está ganhando força é o de “higher for longer” – período em que Federal Reserve (banco central dos EUA) mantém as taxas de juros altas por mais tempo.
“A consequência é que investidores internacionais vão preferir direcionar seus recursos para os Estados Unidos, o que aumenta a demanda pela moeda americana, fortalecendo o câmbio do dólar em relação a outras moedas, incluindo o real brasileiro”, explica Bolzan.
O head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, Diego Costa, explica: “A cautela se intensifica em moedas emergentes [como o real] devido ao maior prêmio por risco e à menor previsibilidade econômica.”
A influência significativa dos EUA sobre a economia global, com o Fed mantendo a taxa de juros em níveis restritivos, repercute, claro, no mercado internacional. A busca por títulos americanos, por exemplo, eleva a compra de dólar, valorizando a moeda frente a outras divisas, lembra Costa.
“Resumindo, a direção dos juros dos EUA é peça fundamental na dinâmica do mercado cambial global,” sintetiza Costa
Influência brasileira na cotação do dólar
No Brasil, alguns fatores têm contribuído para o movimento de desvalorização do real. Entre os mais relevantes, Bolzan cita o risco fiscal, com a mudança de meta fiscal para 2025.
“Como o governo pretende gastar mais, observaremos um aumento da dívida pública, deixando o país mais arriscado pela ótica do investidor global – e a consequente saída de recursos para países mais seguros e desvalorização do real”, comenta o especialista.
Além disso, Bolzan destaca a mudança no comando da companhia estatal de petróleo, a Petrobras (PETR4), após a demissão de Jean Paul Prates, que sinalizou a possibilidade de maior interferência do governo na empresa.
“O impacto não ficou restrito apenas à queda das ações, mas também a uma maior pressão no câmbio pela perspectiva de saída de estrangeiros das ações da empresa e piora do Risco Brasil“, explica sobre o efeito da Petrobras no dólar.
Na visão de Costa, o que poderia fortalecer o real neste cenário é uma agenda programática clara para avançar na pauta fiscal no país para atrair mais capital estrangeiro.
Ainda é possível esperar o dólar abaixo de 5 em 2024?
Na visão dos especialistas, a situação econômica atual não indica que a cotação do dólar vá ficar abaixo de R$ 5 tão cedo.
Conforme explica Bolzan, as mudanças importantes das últimas semanas acabaram trazendo mais volatilidade e pressão ao câmbio no curto prazo.
“Sem os riscos fiscais e ruídos políticos, o dólar poderia estar negociando próximo de R$ 4,90. Como acreditamos que esses riscos continuem no radar, devemos ter a cotação entre R$ 5,00 a R$ 5,10”, estima o especialista CGA.
Em sua análise, Costa também ressalta que, mesmo que o cenário econômico doméstico demonstre uma maior previsibilidade, é preciso estar atento aos eventos no exterior.
“É improvável que haja uma flexibilização da política monetária nos Estados Unidos em um futuro próximo. Não temos condições de competir com as taxas de juros aplicadas em outras divisas. É necessário manter a atenção sobre o comportamento do Banco Central do Brasil,” diz Costa.
Na visão do especialista de câmbio, para que a cotação volte a ficar abaixo de R$ 5, é necessário um cenário tanto interno quanto externo que aumente a confiança dos investidores em relação ao Brasil e estimule o apetite por rentabilidade.
“Isso pode ser alcançado por meio de medidas econômicas favoráveis (reformas estruturais, avanços na agenda fiscal e ambiente político mais estável). No contexto externo, uma perspectiva ‘dovish’ do Federal Reserve, gerando maior demanda por ativos de países emergentes, também poderia impulsionar a queda da cotação do dólar“, aponta Costa, ressaltando a importância de que, para isso, os indicadores precisam sinalizar o desaquecimento no mercado de trabalho e a desaceleração nos preços.
*Suno