Trump se tornou o primeiro ex-presidente dos EUA a ser acusado formalmente de um crime
Michael Cohen, former lawyer for Republican presidential candidate and former U.S. President Donald Trump, departs his home in Manhattan to testify in Trump's criminal trial over charges that he falsified business records to conceal money paid to silence porn star Stormy Daniels in 2016, in New York City, U.S., May 20, 2024. Photo by REUTERS/Eduardo MunozO indiciamento do republicano, que já se lançou como candidato à presidência nas eleições de 2024, foi confirmado nesta quinta-feira (30) por um grande júri de Manhattan, segundo diferentes veículos da imprensa americana. Com a decisão, Donald Trump se tornou o primeiro ex-presidente dos EUA a ser acusado formalmente de um crime.
Afinal, quem é Michael Cohen?
Cohen trabalhou para o bilionário republicano entre 2006 e 2018, quando o escândalo envolvendo o pagamento a Daniels foi revelado pela imprensa americana. Nesse período, o advogado chegou a ser vice-presidente da Trump Organization. Sua principal função, porém, era ser uma espécie de “faz-tudo” de Trump - a pessoa para quem o ex-presidente ligava quando precisava resolver problemas.
Um desses “problemas” surgiu às vésperas das eleições presidenciais de 2016. Daniels começou a procurar tabloides americanos para revelar uma suposta relação sexual com Trump dez anos antes, em Lake Tahoe, na Califórnia. O ex-presidente nega o caso.
O advogado, então, foi acionado para impedir que a história viesse à público. Após a revelação do escândalo, Cohen admitiu que pagou US$ 130 mil, por meio de uma empresa de fachada, à ex-atriz pornô para que ela assinasse um acordo de confidencialidade sobre o suposto caso extraconjugal com Trump.
No início de 2016, Cohen já havia feito uma operação similar para impedir que Karen McDougal, ex-modelo da Playboy, também revelasse um caso com Trump. Na época, o advogado negociou para que o pagamento fosse feito por meio da editora do “The National Enquirer”, o tabloide procurado por McDougal para contar a história.
Já na Casa Branca, Trump reembolsou o ex-advogado pelos pagamentos feitos às duas mulheres. Ao todo, Cohen recebeu US$ 420 mil, sendo US$ 60 mil em uma espécie de bônus, segundo promotores federais que investigaram o caso.
Cohen foi condenado, em 2018, a três anos de prisão pelos crimes de violação às leis de financiamento de campanha eleitoral e por ter prestado falso testemunho ao Congresso dos EUA, entre outras violações. Na época, ele admitiu que havia recebido ordens do ex-presidente para comprar o silêncio de Daniels e McDougal.
O aliado que disse certa vez estar disposto a “levar um tiro” no lugar de Trump agora se tornou uma das principais testemunhas do promotor Alvin Bragg, do distrito de Manhattan, responsável pela investigação do caso. Cohen já prestou diversos depoimentos aos promotores e também foi ouvido pelo grande júri que indiciou Trump.
Os pagamentos às duas mulheres, por si só, não violam a legislação americana. No entanto, ex-presidente teria registrado o reembolso a Cohen como parte dos honorários recebidos pelo advogado, o que poderia configurar uma falsificação dos registros contábeis da Trump Organization. Além disso, Trump pode também ser indiciado por ter violado à lei de financiamento de campanha, já que o caso ocorreu às vésperas das eleições.
Questionado por jornalistas se gostaria que Trump fosse preso, Cohen respondeu que seu objetivo era contar a verdade e ajudar nas investigações.
“Isso não é uma vingança, certo? Isso é sobre responsabilização. Ele precisa ser responsabilizado por seus atos sujos”, disse o ex-advogado de Trump.
O que dizem Trump e seus advogados?
O ex-presidente já ofereceu várias versões para o pagamento a Daniels. Primeiro, quando o escândalo foi revelado, Trump disse que não sabia de nada. Quando novas evidências vieram à tona indicando que Trump estava mentindo, ele disse que nunca pediu para que Cohen fizesse nada ilegal.
Trump fez uma série de postagens sobre o caso em sua rede social, a Truth Social, quando os rumores de que seria formalmente acusado começaram a surgir. “Não fiz absolutamente nada de errado, nunca tive um caso com Stormy Daniels e nem gostaria de ter tido”, escreveu ele. “Eu confiei em um advogado para resolver essa tentativa de extorsão.”
Desde que o ex-aliado começou a colaborar com as investigações, Trump o atacou de várias formas, chamando-o de vira-casaca e mentiroso. Os advogados do ex-presidente devem usar a condenação de Cohen para tentar minar a credibilidade de seu depoimento aos jurados.
A defesa de Trump também convocou Robert Costello, advogado que já trabalhou com Cohen e representou o próprio ex-presidente e alguns de seus aliados, como Steve Bannon, para apresentar evidências que contradigam o testemunho do agora desafeto.
“Deixe [os jurados] verem quem Michael Cohen é e quem ele era naquele momento”, afirmou Costello após prestar depoimento ao grande júri de Manhattan. “Agora ele está no modo vingança. É por isso que fui lá hoje para contar a essas pessoas quem é o verdadeiro Michael Cohen e o que ele estava realmente dizendo naquele momento.”
*Valor