Google, Microsoft, Amazon: entenda por que as big techs continuam demitindo em massa

Em questão de três meses, grandes empresas de tecnologia cortaram mais de 62 mil postos de trabalho, conforme apurou a CNN

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Ao longo do ano de 2022, o número de demissões em todo o setor chega a 150 mil| Pexels


Na manhã de sexta-feira (20), a Alphabet, controladora do Google, anunciou um corte de 12 mil empregos, ou 6% da força de trabalho, para redução de custos. A Microsoft, na quarta-feira (18), também ceifou cerca de 10 mil postos para contenção de gastos.


Os anúncios vêm na esteira de uma série de outras demissões em massa nas maiores empresas de tecnologia do mundo — as chamadas Big Techs –, que, em um período de três meses, cortaram mais de 62 mil postos de trabalho, conforme apurou a CNN.


Ao longo do ano de 2022, o número em todo o setor chega a 150 mil, de acordo com o site de rastreamento Layoffs.fyi, e, segundo a empresa Challenger, Gray & Christmas, representa um aumento de 649% em relação ao volume de demissões do setor em 2021.


A conta, além de Alphabet e Microsoft, inclui Amazon, Meta (empresa-mãe do Facebook), Twitter e Salesforce. Ainda que cada uma tenha suas próprias razões, a simultaneidade de demissões em massa acende o alerta para como as condições macroeconômicas estão afetando algumas das maiores e mais bem consolidadas empresas do mundo.


Para especialistas, as big techs experimentaram um cenário favorável nos últimos anos, principalmente com a pandemia, por conta do isolamento social, com empresas buscando maior presença digital.


Pós-pandemia e guerra

Após esses anos de bonanças, o cenário pós-pandêmico é outro. O aumento dos preços causado pela quebra das cadeias globais e a guerra na Ucrânia, somado ao aumento das taxas de juros pelos bancos centrais ao redor do mundo impactou o setor de tecnologia. É o que explica Rafael Nobre, analista Internacional da XP.


“Os apertos monetários acabam causando uma desaceleração econômica. Muitos países ou regiões hoje já estão até mesmo com o risco de entrar em recessão. Esta desaceleração é refletida diretamente nos balanços destas empresas, que acabam sofrendo com queda de receita e, atualmente, ainda tem o agravante da inflação que causa aumento nos custos”.


“De uma forma ou de outra, todas essas grandes empresas de tecnologia foram beneficiadas pela tendência de maior digitalização causada pela pandemia”, explica Nobre.


Com a curva de desempenho em ascensão, a grande maioria das empresas engatou em um ritmo de contratações em massa.


A Meta é emblemática nesse sentido: depois de “aumentar significativamente os investimentos” da empresa, numa onda de otimismo causada pelos bons números na pandemia, o CEO Mark Zuckerberg chegou a enviar uma mensagem aos funcionários dizendo que “assumia a responsabilidade” pelo erro de cálculo que levou à demissão de 13% da força de trabalho — ou mais de 11 mil funcionários.


“Não apenas o comércio online voltou às tendências anteriores, mas a desaceleração macroeconômica, o aumento da concorrência e a perda de anúncios fizeram com que nossa receita fosse muito menor do que eu esperava”, disse o bilionário no começo do mês de novembro do ano passado.


“O boom da pandemia acabou. A inflação disparou de modo global e, com as políticas monetárias dos Estados Unidos e da Europa mais apertadas, as grandes empresas estão refletindo essa desaceleração da economia”, explica Nobre.


O fato das Big Techs terem sedes nos Estados Unidos também entra na conta. De acordo com Nobre, o consenso entre analistas de mercado é de que há cerca de 65% de chance da economia norte-americana entrar em recessão em 2023. Caso essa previsão se materialize, um cenário complexo para todas as empresas se instala — e não só às gigantes de tecnologia.


“O atual patamar dos juros nos Estados Unidos pode empurrar a maior economia do mundo a uma recessão. Esperamos que ela seja leve, mas, até o pico da taxa ser atingido pelo Federal Reserve System e os efeitos dela serem sentidos na economia, é difícil prever se 2023 também vai comportar uma recuperação.”


Olhando especificamente para as Big Techs, o movimento é de normalização ao período de economia desacelerada, em que as empresas miram redução de custos para manter a rentabilidade e a saúde financeira durante turbulências.


“Das grandes, só falta a Apple, mas tudo indica que ela vai ser afetada também”, acrescenta.


Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, lembra que as Big Techs dependem de licença de software ou de anunciantes, áreas que foram impactadas com a retomada das atividades presenciais e as flexibilizações das medidas restritivas anunciadas.


“Acima de tudo, estão parecendo cada vez mais com empresas padrão. As big techs tiveram uma dominância gigante na bolsa americana, especialmente, ao longo dos anos 2020 e 2021, e agora elas enfrentam as mesmas questões das demais empresas. Elas sempre foram tratadas com se fossem uma categoria absolutamente a parte e agora a realidade bateu e estão tendo que fazer esses ajustes”, resume Arthur Igreja.


Mais um “novo normal”?

Se 2022 foi o ano em que os bons tempos terminaram para essas empresas de tecnologia, 2023 já está se preparando para ser um ano em que as pessoas nessas empresas se preparam para o quanto as coisas podem piorar.


A caminho de 2023, os temores de recessão e as incertezas econômicas ainda pesam muito na mente dos consumidores e formuladores de políticas, e espera-se que os aumentos das taxas de juros continuem.


Além disso, o número crescente de demissões também pode dar a certas empresas de tecnologia alguma cobertura para tomar medidas mais severas para cortar custos agora do que poderiam ter feito de outra forma.


Na visão de Junior Borneli, CEO da StartSe, escola internacional de negócios, o contexto também pode ser resumido pela máxima: “Nunca desperdice oportunidades em uma crise”.


“Todas elas perderam rentabilidade nos últimos dois trimestres, é verdade. As demissões são em parte por causa desse reajuste ao cenário econômico global, com a perda de margens de lucro, mas não podemos descartar o uso crescente de inteligência artificial nessas empresas”, diz ele em entrevista.


É provável, segundo ele, que parte desses movimentos — principalmente na Microsoft e Google — sejam também impulsionados por uma substituição de força de trabalho humano por algoritmos de grande eficiência.


“Sempre existe ali alguma substituição de algumas funções por algoritmos de Inteligência Artificial. Já vemos o uso disseminado de chatbots, posts, imagens e textos publicitários criados por IA… Um monte de aplicações práticas já estão acontecendo de fato agora.”


As demissões em massa podem criar um novo equilíbrio nas estruturas das grandes empresas, à medida que o enxugamento e otimização de gastos pode se tornar uma realidade inscrita em cláusula pétrea.


“As empresas estão em busca de estruturas eficientes, que favorecem as margens de lucro e nadam contra aquela ideia de ‘crescimento a qualquer custo'”, diz Nobre. “Daqui para frente, essa deve ser a grande prioridade.”


O mercado, em resposta, aparenta estar reagindo bem ao “novo normal”. Após o anúncio de cortes de 6% da força de trabalho, as ações da Alphabet estavam em alta de 4,67% na Nasdaq até as 14h40 (horário de Brasília).


“Isso é sinal de que o mercado entende que a Alphabet consegue enxugar custos, provavelmente vai se tornar mais eficiente operacionalmente e vai crescer”, resume Guilherme Zanin, analista da Avenue.


*Com informações de Catherine Thorbeckeda, do CNN Business, e Pedro Zanatta, da CNN Brasil 


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