Empresa tem cerca de 150 funcionários no país, que estão sem acesso a sistemas internos e ao computador corporativo
Segundo jornal, mais de 3.500 pessoas em todo o mundo devem ser demitidas | DADO RUVIC/REUTERS
Após Elon Musk assumir a gestão do Twitter, a rede social iniciou na sexta (4), o desligamento em massa de funcionários. Segundo apurou o Estadão, as demissões afetaram empregados da companhia no Brasil, mas ainda não é possível determinar o número de demitidos. Por aqui, a empresa mantinha um quadro com cerca de 150 pessoas — todas as áreas da rede no País foram afetadas.
Começaremos o difícil processo de redução de nossa força de trabalho global na sexta-feira
, indicou o Twitter a seus funcionários por e-mail. Segundo o jornal Washington Post, a companhia está demitindo 50% de seus 7.500 empregados.
Reconhecemos que um certo número de pessoas que fizeram contribuições significativas para o Twitter será afetado, mas essa ação infelizmente é necessária para garantir o sucesso da empresa no futuro
, informou a empresa a sua equipe.
No Brasil, os funcionários sofreram com a falta de informações enquanto assistiam às demissões no mundo. A companhia não formalizou os desligamentos no País, mas funcionários estão sem acesso a sistemas internos e ao computador corporativo. "Estamos em um limbo", afirmou um profissional ao Estadão. Outro chamou o processo de "tortura".
Nos EUA, os demitidos foram informados em uma segunda mensagem de que receberão salário até 2 de fevereiro de 2023 - essa, porém, não é uma mensagem que chegou ao quadro brasileiro. A companhia não se manifestou oficialmente ainda no País.
O e-mail enviado esclarece que, mesmo sob o aviso prévio, funcionários tiveram o último dia de trabalho ontem. O vínculo com a empresa permanece até fevereiro, e a companhia alerta que todos os colaboradores devem permanecer em conformidade com políticas de privacidade e sigilo estabelecidas em contrato.
Justificativa
Antes do envio do e-mail que falava sobre salários, Musk publicou na rede social que a companhia estava perdendo receita publicitária por causa de "ativistas", um indicativo de que ele deve afrouxar as regras de moderação da plataforma.
O Twitter teve uma queda massiva em receita, devido aos grupos de ativistas fazendo pressão em anunciantes, mesmo que nada tenha mudado com moderação de conteúdo e que tenhamos feito tudo o que pudemos para apaziguar os ativistas. Totalmente zoado! Eles estão tentando destruir a liberdade de expressão nos Estados Unidos
, dizia o tuíte.
O Twitter não divulgou o relatório financeiro do último trimestre — a empresa já estava em vias de finalizar a negociação com Musk —, mas, de acordo com a Reuters, a companhia estava operando em prejuízo, com uma perda diária de US$ 3 milhões "com todos os gastos e receitas considerados", afirma a agência de notícias.
Uma mensagem no app Slack, usado para a comunicação interna dos funcionários, também afirmava que o plano de Musk é economizar cerca de US$ 1 bilhão em gastos de infraestrutura por ano.
Patrão
O magnata comprou o Twitter por US$ 44 bilhões e assumiu o controle na última quinta-feira, 3, após seis meses de idas e vindas. Musk dissolveu imediatamente o conselho de administração demitiu o CEO e outros executivos e lançou novos projetos com metas a serem cumpridas rapidamente.
Musk convocou ainda engenheiros da Tesla para supervisionar o trabalho dos funcionários do Twitter. Vários engenheiros tiveram de imprimir as últimas linhas do código produzido, segundo um funcionário que pediu anonimato. As listas comparavam o trabalho feito pelo pessoal de TI, principalmente com base no volume de produção, segundo funcionários.
Cortes podem aumentar discurso de ódio na rede, dizem especialistas
O corte de mais de 3 mil funcionários deve afetar a operação do Twitter em relação ao conteúdo, afirmam especialistas. Equipes responsáveis pelas áreas de monitoramento de discurso de ódio e desinformação também estavam entre os demitidos, o que pode jogar o Twitter na contramão de rivais (como Facebook, Instagram TikTok, WhatsApp e Telegram) no trabalho de coibir a distribuição de "conteúdo tóxico".
Para o pesquisador David Nemer, professor de mídia da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, a rede social pode se tornar um lugar pior.
"Ao desmantelar essas áreas, acaba a chance de o Twitter ser uma plataforma saudável", explica. "Se antes já não era uma rede muito transparente, as demissões podem torná-la pior."
Nemer aponta que empresas que anunciam na plataforma podem abandonar a rede. Isso geraria um efeito contrário ao proposto por Elon Musk, que tem como objetivo aumentar o faturamento da companhia.
As marcas não vão querer ter seus anúncios veiculados próximos a postagens de discurso de ódio
, acrescenta.
Um ex-funcionário do Twitter afirmou ao Estadão que essa é a primeira das consequências que podem vir. Em um cenário de incertezas, marcas podem ser afugentadas e pausar os anúncios na plataforma, impactando a principal fonte de faturamento da empresa.
Se fracassar a tentativa de engordar o cofre, a plataforma pode operar com dificuldades - o Twitter pode voltar a "baleiar", termo criado por usuários entre 2006 e 2010 para avisar quando a rede enfrentava instabilidade e ficava fora do ar.
Pressão
A falta de uma política de moderação de conteúdo pode significar problemas com as autoridades brasileiras.
Enfraquecer a equipe que lida com as autoridades brasileiras pode significar um prejuízo real para a empresa
, diz Artur Pericles Monteiro, pesquisador no Yale Information Society Project.
A possibilidade de revisão das políticas de moderação chega em um momento crítico para o Brasil
explica Bruna Santos, integrante da coalizão Direitos na Rede...
Isso pode beneficiar a disseminação de ideias e posicionamentos antidemocráticos na plataforma.
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