Um relatório divulgado pelo Credit Suisse projeta que o número de pessoas com patrimônio acima de US$ 1 milhão no País aumentará 115% até 2026. No mundo, o avanço será de 40%
O Brasil deve ser um dos países que devem surfar a onda de crescimento da riqueza prevista nos países emergentes até 2026, registrando o maior aumento percentual na quantidade de pessoas com mais de US$ 1 milhão. Mas a desigualdade, que aumentou em todo o mundo, não mostra sinais de alívio.
Esse é um dos destaques do Relatório de Riqueza Global, divulgado nesta terça-feira, 20 de setembro, pelo Credit Suisse. Segundo o estudo, a quantidade de milionários no mundo deve registrar um salto de 40% entre 2021 e 2026, para 87,5 milhões de indivíduos.
Nesse período, o Brasil deve apresentar um crescimento significativo no número de milionários, de 115%, com cerca de 572 mil pessoas alcançando um patrimônio superior a US$ 1 milhão.
Esse é o maior volume entre os países individualmente, de acordo com a pesquisa do Credit Suisse. Em termos percentuais, o avanço fica atrás apenas da África, que tem um crescimento estimado de 173% no período.
Segundo Anthony Shorrocks, um dos autores do estudo, o avanço no Brasil é parte da tendência de crescimento da riqueza em geral para o período. O Credit Suisse projeta que a riqueza global em termos nominais aumente em US$ 169 trilhões até 2026, alta de 36%, com os países emergentes respondendo por 42% desse crescimento.
“A principal razão para o crescimento (na quantidade de milionários no Brasil) é que a riqueza por adulto, em geral, vai aumentar”, disse Shorrocks, em evento para tratar do relatório. “Existem algumas pessoas bem próximas de serem milionárias, então qualquer aumento resulta em uma forte alta.”
O Credit Suisse projeta que a quantidade de adultos no mundo com riqueza abaixo de US$ 10 mil atingirá 46% da população total no período. No começo do século, esse percentual era de 80%. A expectativa do banco é de que um total de 337 milhões de adultos, 38% no mundo, ascendam para a classe média, cuja riqueza varia de US$ 10 mil entre US$ 100 mil.
Segundo o estudo, desde 2000, a riqueza por adulto aumentou a uma taxa média anual de 5,8% no Brasil, enquanto a América Latina teve uma taxa média de crescimento de 5,5% no período. Ainda assim, o valor por pessoa no Brasil é um dos mais baixos da região. –
O banco aponta que o avanço previsto na quantidade de milionários seguirá impulsionado pela perspectiva de valorização dos ativos financeiros, que respondem pela maior parte do aumento da riqueza das famílias pelo mundo desde a crise financeira de 2008, e a alta prevista na inflação, que facilitará a ultrapassagem da marca de US$ 1 milhão.
Justamente por conta da inflação, os ativos financeiros devem registrar um aumento relativamente menor que aqueles na categoria não financeiros, em que se enquadram imóveis e veículos – 6,7% versus 6,2%.
Por aqui, os ativos financeiros têm se tornado cada vez mais importantes na formação da riqueza, o que vem ajudando na evolução de milionários. No País, como fração do total de ativos brutos, a categoria passou de 44,4%, em 2000, para 55,8% em 2021.
Ainda que as perspectivas sejam positivas, o estudo do Credit Suisse mostrou que a desigualdade permaneceu elevada. Por conta da alta nos preços dos ativos financeiros, a fatia da parcela 1% mais rica do mundo na riqueza global foi de 45,6% no ano passado, acima dos 44,9% de 2020 e de 43,9% em 2019.
No Brasil, onde a pandemia fez com que 29,6% dos brasileiros acabassem com renda familiar inferior a R$ 497 mensais, segundo estudo do FGV Social, o 1% mais rico ficou com 49,3% da riqueza em 2021, contra 44,2% em 2020.
Ao final de 2021, o País registrou a menor riqueza por adulto entre as principais economias latino-americanas – US$ 21.429, contra US$ 48.138 no México e US$ 54.639 no Chile. E o o Coeficiente de Gini, que mede o grau de concentração de renda, foi de 89,2 em 2021, acima dos 84,5 em 2000 e um dos números mais elevados do mundo.
“Não temos estimativas certas, mas acreditamos que a desigualdade deve persistir alta nesses próximos quatro anos”, afirmou Rodrigo Lluberas, um dos autores do estudo.
*NeoFeed