‘Fome avança para as cidades e para as classes médias’, afirma ONU

Segundo Julio Berdegué, representante da Organização na América Latina, a região perdeu 20 anos de combate a esse problema, que agora deixa regiões rurais isoladas e favelas

Estadão Conteúdo/Arquivo
pessoa distribuindo um pedaço de pão
Distribuição de pães na Igreja de Santo Antônio no centro de São Paulo, maior cidade do Brasil


América Latina perdeu 20 anos no combate à fome, que atingiu mais de 56 milhões de pessoas em 2021, afirmou nesta quarta-feira, 6, Julio Berdegué, representante regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). “A região perdeu 20 anos de combate à fome. É um agravamento de uma condição que já era desastrosa, que nos diz que a recuperação pós-pandemia não chegou aos lares”, disse o alto funcionário da FAO. Em 2020, a crise sanitária fez disparar o número de pessoas com fome para 52,3 milhões, enquanto em 2021 essa cifra chegou a 56,5 milhões, 8,6% da população regional. “Estamos retrocedendo desde 2015. A maior catástrofe veio de 2019 para 2020, mas tivemos um leve agravamento novamente este ano, com quase 4 milhões de pessoas a mais que passaram fome”, acrescentou. Ainda segundo Berdegué, o problema da fome passa, em 2022, a avançar para centros urbanos e classes médias, deixando de ser um problema de lugares isolados e favelas.

Esses números constam no novo relatório anual sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo, publicado por cinco agências da ONU que alertaram nesta quarta-feira que cerca de 828 milhões de pessoas sofriam de fome no final do ano passado. Do total de pessoas nessa condição, a ONU indica que a América Latina e o Caribe concentram 7,4%, enquanto mais da metade vive na Ásia e mais de um terço na África. Os países da região com maior prevalência de fome são Haiti (47,2%), Venezuela (22,9%), Nicarágua (18,6%), Guatemala (16%), Equador (15,4%) e Honduras (15,3%), enquanto os menos afetados são Uruguai e Cuba (menos de 2,5%) e Chile (2,6%). Por outro lado, a insegurança alimentar também disparou, atingindo 40,6% da população (268 milhões de pessoas) em 2021, um aumento de 1,1% em relação a 2020.

Segundo Berdegué, este panorama indica que, no ano passado, a região ainda não havia se recuperado dos efeitos da covid-19, que deixou até agora mais de 72 milhões de infecções e 1,7 milhão de mortos. Com recorde de mortes, extensas quarentenas e escassez de equipamentos e assistência médica, a América Latina, a região mais desigual do mundo, foi uma das mais afetadas em termos sanitários e econômicos pela crise sanitária. A esta crise se somarão ainda os impactos da invasão russa na Ucrânia. Nesse caso, o relatório sugere que o número de pessoas subnutridas em 2022 pode aumentar no mundo entre 7,6 milhões e 13,1 milhões de pessoas. Para a América Latina e o Caribe, até 2022, isso significaria um aumento entre 350.000 e 640.000 pessoas, dependendo da gravidade e do futuro do conflito.

A guerra, segundo explicou Berdegué, está privando o planeta de alimentos de dois grandes produtores, Ucrânia e Rússia, que produzem milho, trigo e certos óleos e fertilizantes, o que “tem um enorme impacto ao aumentar os preços dos alimentos”. “Isso significa que a fome e a segurança alimentar, em seus diferentes graus, não são mais um problema em regiões rurais isoladas ou favelas. Agora a fome avança para as cidades e para as classes médias“, alertou.

*Com informações da EFE/*Jovem Pan

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