De postos menores até transformação na rede elétrica, os carros elétricos irão alterar o espaço urbano.
De postos menores até transformação na rede elétrica, os carros elétricos irão alterar o espaço urbano.
Os carros elétricos trazem promessas de cidades com menos ruído e quase zero poluição no ar. Mas o que esses veículos podem significar para o planejamento urbano? Questões como carregamento, matriz energética (ou a mudança dela), rede elétrica e também massificação dos veículos deverão ser respondidas pelos planejadores do futuro.
Autonomia dos carros elétricos: um raio de poucos quilômetros
Diferentemente das baterias dos veículos que utilizam álcool ou gasolina, a dos EVs (da sigla em inglês para Electric Vehicle) tem vida útil menor. Esse é, inclusive, um dos principais desafios para a escalabilidade desse tipo de veículo. Para se ter uma ideia, a Tesla está testando uma bateria experimental que poderia rodar 1 mil km. Mas, atualmente, a capacidade é de 400 km.
Esse já é um primeiro ponto de impacto na dinâmica das cidades. Afinal, a autonomia menor pressupõe a necessidade de postos de carregamento espalhados pela cidade. E por todas as partes da cidade. Nos Estados Unidos, já se fala em um “charging desert”, ou seja, áreas onde o carro poderia ficar quando a bateria acabar – e sem ter como recarregar. Ou seja, a estratégia dos postos de recarregamento terá que ser pensada em conjunto com o desenho urbano. “A infraestrutura tem que vir primeiro, depois as pessoas vão comprar [os carros]”, comentou o gerente da frota de carros elétricos da cidade escocesa de Dundee, Fraser Crichton, à CBC.
Para especialistas, a discussão de onde serão os pontos de carregamento nas cidades é a mais importante dos próximos anos porque ela vai ditar aqueles que terão maior circulação utilizando os veículos elétricos. Dundee é um exemplo para o planejamento urbano dos pontos de carregamento dos carros. Segundo Crichton, “temos que planejar e entender como a cidade precisa estar nos próximos 20 anos, onde os veículos vão se movimentar, onde ficarão os postos de táxi e os caminhões”, disse ele.
A rede caiu
O tempo de recarregamento das baterias também é um desafio a ser transposto. Em alguns modelos, trata-se de oito horas para estar com o “tanque cheio”. Situação que levará as cidades a repensarem a tarifação de energia, pois, em grande escala, significará um uso intensivo de eletricidade.
De acordo com o professor Aleksandr Szklo, do programa de Planejamento Energético da Coppe da UFRJ, caso toda a frota de veículos leves do Brasil fosse elétrica, isso representaria uma fatia entre 15% e 20% da demanda energética do País. “Nossos estudos indicam que a distribuição precisaria fazer investimentos, sobretudo de transformadores para lidar com a sobrecarga associada a veículos elétricos, disse o professor ao Jornal Nacional.
Ou seja, a cidade do futuro próximo precisará ter infraestrutura de rede elétrica para apoiar os veículos e as áreas de carregamento. Além disso, a matriz energética deve ser levada em conta – já que 60% da energia do mundo ainda é vinda do carvão, que produz CO2 e polui. Mesmo sem essa alteração, os carros elétricos ainda poluem 30% menos do que os movidos a combustão.
Postos de abastecimento
Se a adequação chega à cidade, chega também às construções. Para quem mora em casa, é possível carregar o carro na garagem. Mas e quem mora em prédios? Os edifícios, inclusive espaços públicos, terão que incluir postos de carregamento, o que leva ao desafio da padronização, que ainda não foi resolvido. Afinal, ainda não existe um padrão unificado de formato de carregadores de veículos. As cidades e as empresas terão que chegar a um meio-termo para levar os postos para todos os lugares.
Visualmente, eles também significam ruptura do padrão e devem requerer certa padronização. Atualmente, eles são mais parecidos com um totem de recarregamento do que com aqueles grandes espaços com bombas de gasolina, de álcool e lojas de conveniência.
No município da Escócia, eles ficam nas calçadas, como se fossem pontos de ônibus. Os motoristas descobrem a sua existência a partir de um aplicativo. Pensando em poluição visual, essa é uma saída interessante, mas a exploração como espaço publicitário é uma possibilidade.
Tráfego afetado
A pergunta que fica para o dia a dia é: e o congestionamento, quando vai mudar? A verdade é que os carros elétricos podem oferecer a diminuição do trânsito quando forem combinados com tecnologia autônoma e também com o uso compartilhado, mas, sozinhos, eles não resolvem o problema.
*Habitability