O estresse crônico pode alterar a microbiota intestinal e acelerar o câncer colorretal, enfraquecendo a resposta imunológica do corpo Veja os sintomas iniciais do câncer colorretal - iStock/libre de droit Pesquisadores apresentaram no congresso da United European Gastroenterology (UEG Week) , realizado em Viena, na Áustria, um estudo inovador sobre os impactos do estresse crônico na microbiota intestinal e sua relação com o câncer colorretal. A pesquisa revela como o estresse pode acelerar o crescimento dos tumores intestinais ao afetar a flora bacteriana, o que abre novas possibilidades terapêuticas. O impacto do estresse no câncer colorretal O estudo demonstrou que o estresse crônico pode contribuir para a progressão do câncer colorretal, principalmente ao reduzir a presença de bactérias benéficas no intestino, como o Lactobacillus. Essas bactérias são essenciais para manter o equilíbrio da microbiota e reforçar a resposta imunológica do organismo. Quando o estresse provoca a diminui...
Covid: Risco de lesão cardíaca causa preocupação no futebol
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Registro de jogadores que têm sequelas da doença cresce
Há duas semanas, o atacante Aubameyang desfalcou a seleção do Gabão pela Copa Africana de Nações. Alguns dias antes, ele havia recebido um teste positivo para a Covid-19, assim como seus companheiros Meyé e Lemina. Os três apresentavam o mesmo problema: lesões cardíacas. Foi também o diagnóstico do lateral-esquerdo Alphonso Davies, que apresentou sinais de miocardite leve e precisou ser afastado dos treinos no Bayern de Munique, da Alemanha.
Os casos de Aubameyang e Davies foram anunciados no mesmo dia, mas o mundo do futebol vem enfrentando situações semelhantes desde o início da pandemia. O goleiro Matheus Cavichioli, do América-MG, foi mais um dos jogadores que testaram positivo para o coronavírus e tempos depois teve problemas cardíacos. Ele passou por angioplastia de uma artéria parcialmente obstruída no coração.
No caso de Cavichioli, os médicos optaram por não assegurar que o caso era decorrente da Covid-19. De acordo com a assessoria de imprensa do América, a equipe médica “decidiu não entrar no mérito da relação de problemas de coração com a Covid-19” e que “ainda é muito precoce cientificamente entrar nessa seara”.
Em relação a Aubameyang e seus companheiros de seleção, foi o Gabão que afirmou categoricamente que os jogadores, “recém-saídos da Covid-19 não poderiam disputar a partida, pois os exames médicos mostraram lesões cardíacas”. Foi o mesmo discurso do técnico do Bayern de Munique, Julian Nagelsmann, ao comentar a situação de Alphonso Davies.
– Nos exames de acompanhamento que fazemos com todos os atletas que já foram infectados pela doença, Davies deu sinais de leve miocardite após a sua infecção por Covid-19. Não é tão dramático pelo que os exames indicaram, mas ele vai precisar ficar fora pelas próximas semanas porque isso leva um tempo para recuperação – disse o técnico.
O QUE DIZEM OS MÉDICOS De acordo com o cardiologista Raniere Cabral, que atua no Hospital do Coração de Alagoas, a infecção por Covid-19 é algo para se ficar de olho, especialmente no caso de atletas e esportistas competitivos (não amadores), embora não possam ser ignorados pelos esportistas recreativos, que se submetem a exercícios físicos de leve a moderada intensidade.
– O acometimento cardíaco na Covid-19 pode chegar a 16% dos casos e os motivos são vários. É de conhecimento geral que exercícios físicos vigorosos podem levar à morte súbita em indivíduos com doenças subjacentes não diagnosticadas, muitas delas de origem genética. Entre as patologias adquiridas, a doença arterial coronariana e a miocardite, foco especial dessa pandemia, estão entre as que mais podem levar à morte súbita.
MORTES SÚBITAS Segundo Cabral, a morte súbita dentro do esporte está relacionada à intensidade dos exercícios físicos, no qual os atletas e esportistas competitivos entram para o grupo de maior risco de eventos cardíacos em comparação aos que fazem exercícios de forma recreativa, mais leves. Por conta disso, é necessário que todo o paciente acometido pela Covid-19 passe por uma avaliação médica antes de retornar às atividades.
– A avaliação pré-participação esportiva é a principal ferramenta para a prevenção de morte súbita no esporte e está recomendada para todos que querem iniciar ou reiniciar um programa de exercícios físicos. No contexto atual de pandemia por um vírus que pode levar a alterações cardíacas micro ou macroestruturais, essa avaliação médica deve ser feita antes de reiniciar a prática de exercícios, independentemente de ter sido leve, moderada ou grave, mas com aprofundamentos diferentes – disse.
A avaliação deve ser realizada após 14 dias do diagnóstico da contaminação pelo coronavírus ou ao fim dos sintomas. Geralmente, os atletas contaminados não se curvam aos sintomas da doença. Poucos episódios são relatados de jogadores que ficaram de cama por causa da Covid. Caso uma miocardite seja comprovada durante a doença, a avaliação deve ser feita três meses após a resolução dos sintomas.
COMO O CORONAVÍRUS AFETA O CORAÇÃO Um pequeno estudo feito na Alemanha e publicado na revista Jama Cardiology em julho de 2020 mostrou como o coronavírus afeta o coração. Os pesquisadores estudaram cem pessoas, com idade média de 49 anos, que se recuperaram da Covid. A maioria foi assintomática ou apresentou sintomas muito leves.
Dois meses após o diagnóstico, os cientistas submeteram os pacientes curados a exames de ressonância magnética e fizeram descobertas alarmantes: cerca de 80% deles apresentavam anomalias cardíacas e 60% tinham miocardite.
O médico do Flamengo, Fernando Bassan, acrescenta que a maior preocupação dos departamentos médicos é justamente com a miocardite.
– A miocardite é a inflamação do músculo do coração. Não é uma doença nova ou rara, tipicamente viral. Por ser viral e a Covid-19 ser viral também, há correlação entre as duas. A miocardite, então, atinge em 16 vezes mais o paciente que teve Covid-19 do que o que não teve, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Naturalmente, em atletas existe um impacto grande. Ao termos uma detecção de miocardite num jogador, isso implica em um afastamento de três a seis meses de suas atividades.
A pesquisa à qual ele se refere foi realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, entre março de 2020 e janeiro de 2021 e envolveu cerca de 900 hospitais. Os resultados da agência afirmam que pacientes com Covid-19 tinham quase 16 vezes mais chances de demonstrar um caso de miocardite do que os não infectados, com risco maior para pacientes com menos de 16 anos ou com mais de 50 anos.
Segundo o CDC, o número de consultas relacionadas à miocardite nos hospitais pesquisados foi 42% maior em 2020 do que em 2019. A maioria dos pacientes investigados teve o diagnóstico para as duas doenças no mesmo mês, embora ainda não fosse explicada a origem deste vínculo. O órgão americano também mantém um monitoramento em relação às vacinas que usam a tecnologia de mRNA.
– Miocardite e pericardite vêm sendo reportadas de forma rara, especialmente em adolescentes e jovens adultos do sexo masculino dias após a vacinação por Covid-19. (…) O CDC recomenda que todas as pessoas com mais de cinco anos tomem a vacina contra a Covid-19. Os riscos conhecidos da Covid-19 e suas possíveis complicações, como problemas de saúde contínuos, hospitalização e até morte, ultrapassam grandemente o risco de ter um raro efeito adverso da vacinação, inclusive o risco de miocardite e pericardite – informou a entidade.
PROCEDIMENTO NO FUTEBOL Ainda segundo Bassan, os problemas cardíacos são uma preocupação geral de todos os clubes brasileiros. No Flamengo, o protocolo de cuidado com os atletas é o afastamento após a detecção da Covid-19 e, quando há o retorno dos jogadores, são feitos exames a fim de descobrir o que pode ter acontecido durante o período de infecção da doença.
– Geralmente, não há grandes sintomas que possam justificar ou identificar uma alteração cardíaca. É necessária uma avaliação proativa. No Flamengo, todos os atletas que retornam de um afastamento passam por uma avaliação clínica, que inclui a realização de eletrocardiograma e exame de sangue para saber, e ter em documento, se há alguma alteração cardíaca importante relacionada à Covid-19. Caso não tenhamos alteração, o atleta estará autorizado a retornar ao treinamento e aos jogos.
Impedido de fazer atividades físicas, o paulista João Alvim, de 23 anos, teve um problema cardíaco detectado quando foi diagnosticado com a Covid em dezembro de 2020. Antes disso, nunca apresentou nada do tipo. Além dele, os membros mais próximos de sua família também testaram positivo e, por precaução, ele e o pai tiveram de ser internados para o monitoramento da situação. Desde então, João toma alguns cuidados, como não fazer atividades físicas ou qualquer coisa que possa estressar o músculo do coração.
– Eu comecei tendo febre e muita dor no peito, muita dor mesmo. À noite, aumentava bastante e se tornava insuportável. Chamei minha mulher, não melhorou, e tive de ir para o hospital. Consegui ir dirigindo, mas no exame de sangue deu alteração, indicando sinal de enfarte. Fiz um cateterismo de urgência e descartaram maiores problemas, só que aí foi constatada uma miocardite por causa do coronavírus.
João diz que quando faz qualquer esforço físico maior ainda sente dor no peito. São 13 meses em que toma medicação diariamente, com acompanhamento de um cardiologista. E que ainda não sabe quando será liberado para voltar à vida normal. Ele não é jogador profissional, mas tem nas atividades esportivas um caminho de recreação como milhares de pessoas na sua cidade. Ele trabalha sentado, com produção de conteúdo, sem qualquer esforço físico.
CASOS DIFERENTES A preocupação com problemas cardíacos se tornou uma necessidade no futebol brasileiro e mundial após eventos que chamaram atenção, como o do ex-zagueiro Serginho, que sofria de uma hipertrofia miocárdica e sofreu um mal súbito dentro de campo, no dia 27 de outubro de 2004, quando atuava pelo São Caetano numa partida contra o São Paulo.
Já os casos de Christian Eriksen e Sergio Agüero, já durante a pandemia da Covid-19, não decorreram da infecção por coronavírus, de acordo com o professor Sanjay Sharma, pesquisador da St. George’s University, de Londres. Ele já trabalhou com diversos clubes da Premier League e acredita que os casos se dão mais por uma falta de sorte e maior investigação dos problemas em atletas de alto nível.
– Posso dizer agora que o caso de Eriksen não teve nada a ver com Covid ou com a vacina nem o susto cardíaco de Agüero – disse ao jornal ao Daily Mail, no mês passado.
Ele afirma que a situação pode ter escalonado porque a maioria dos jogadores não teve tempo suficiente para descansar, pois continuaram treinando durante o período de lockdown, já pensando em quando as ligas poderiam retornar. Segundo Sharma, quando grandes nomes estão envolvidos, as pessoas tendem a acreditar que os problemas estão se tornando piores.
– A paragem cardíaca súbita e bem divulgada de Eriksen, a mais importante que já testemunhei, certamente abriu os olhos do mundo para a paragem cardíaca súbita no esporte. Depois, o Agüero teve um susto cardíaco durante um jogo televisionado. Quando acontece com alguém de alto perfil, chama a atenção de toda a nação. Não vem à tona que um jovem pode simplesmente cair morto até que um jogador de futebol tenha um susto e é aí que a sociedade começa a perceber.
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